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Conexão Lisboa-Manaus


Faltam apenas para a Grande Dança das Tribos começar!


Nada que não compreendo me pertence

terça-feira, junho 19, 2007
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Foto de Ritz Marie – "View From The Top" (2006)


Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores e diferentes, a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total.

João Guimarães Rosa - Grande Sertão Veredas



O contacto com as comunidades indígenas permite apreender o valor singular do entendimento e da compreensão como forma única de aproximação ao mundo e a tudo o que acima e abaixo dele se contém. Olhar o índio deixa surpreender da forma mais pura e descarnada o que tantos outros homens – que vieram adiante no rosário dos séculos e da História da Humanidade, que através deles se foi desfiando –, sábios ou pensadores apenas, disseram, a seu modo, de formas talvez apenas um pouco mais complexas e elaboradas: que o mundo só existe para nós na exacta dimensão da compreensão que dele temos. Reprimir ou abdicar dessa ânsia congénita de surpreender o redor é nunca saber de si, pois que nada se sabe sem o confronto com esse exterior que nos confere recorte. É viver espalmado contra a entediante mesmidade de um fundo que se reduz a nós mesmos, sendo que, como qualquer um pode rudimentarmente experienciar, o branco nem branco se pode dizer que seja contra um pano branco e todo o negro desaparece, já se sabe, contra um cenário negro também. Branco ou negro, facto é que não alçar o pescoço, não erguer o queixo, subir o sobrolho e elevar o olho, reduz o que há para perceber ao limitadíssimo espaço cúbico que ocupamos. Não surpreende, pois, que não só em breve não vejamos nada de suficiente estranho que possa suscitar o nosso interesse, como a muito curto trecho nem sequer consigamos mais perceber seja o que for em nosso lugar. Assim, anulado em primeiro lugar da esfera da compreensão, anula-se em seguida do universo daquilo que há para compreender. Uma vez daí desaparecido, não é sequer de pasmar que se evanesça irremediavelmente do que é apreendido. E o não apreendido, efectivamente, é nada: só vácuo e vazio em seu lugar. Dito de forma mais simples, não compreender o mundo é nem viver fora do mundo: é viver sem mundo.

Para o índio, a necessidade de explicar as coisas é extensão de um modelo de compreensão essencial para que o que o rodeia possua e seja trazido à existência. A construção do modelo explicativo da vida e das coisas viventes é, ao limite, aquilo que permite que, quer a vida, quer o que é vivente, possuam existência. É por isso que a relação das coisas que importam e são vitais para uma determinada comunidade se apreende facilmente, observando as suas representações, escutando as suas lendas e narrativas. É porque a Lua me importa que a contemplo e tento compreender, e é porque a procuro compreender que a possuo e faço minha, razão pela qual ela se torna importante para mim. Aquilo que mais me fascina entre as tribos é essa despudorada vocação para se importar.

É desse fascínio que mais me pesa a saudade no regresso ao Ocidente Branco, onde tantos (demasiados, convenhamos!) são tão facilmente "desimportados" com a vida e o que é vivente, que se afirmam quase orgulhosos dessa despliscência tão contra-natura, mas tão eficaz para desculpar a preguiça que gradualmente se foi espraiando por sobre suas cabeças anestesiadas e dormentes, esquecidas (tão esquecidas!) de se exercitarem, sob o preverso efeito secundário de uma comodidade "comodistamente" tentadora, perdidos (quem sabe, irremediavelmente) desse dom extremo que lhes conferiu o predicado da humanidade: a faculdade de serem pensantes.
Quanto crime, quanto pecado, há nesse desbaratar do cérebro em fuga, demissionário dessa sua vibração primeira: a de sair de si e se lançar contra o mundo, pelo simples movimento desse rubro entusiasmo que é a vontade de o compreender e poder beber inteiro!!...


O espanto, correlato da original necessidade de compreensão do mundo que nos faz humanos. A curiosidade, como expressão primeira do interesse que nos compromete com o seu entorno. Nada de mais sedutor. Nada de mais fascinante. Só essa endiabrada inquietação do que nos intriga. Do que não podendo confundir-se connosco queremos nosso. O intelecto como a nossa mão mais capaz de possuir e trazer a nós. Para dentro de nós. Até se confundir connosco. Por todo o sempre.

Escutando, não raras vezes, o discurso da possessão inabalável que o índio tem para si em relação a todas as coisas que chama suas, muitas vezes sorri branda, incapaz de partilhar dessa interpretação que geralmente os apelida de sobranceiros e altivos. É sua a Terra, sim. Porque o índio a compreende. São seus os rios, porque por eles se interessou e interessa ainda o suficiente para procurar entendê-los. Para ser inteiramente franca, é-me, aliás, extremamente fácil aceder à razão do índio, pois que eu mesma reconheço que nada me pertence tanto como aquilo que eu compreendo. E se algo irrevogavelmente possuo de meu, não são senão as coisas (embora ainda poucas) que na tentativa de entender vou compreendendo. Pelo raciocínio as trago a mim e pelo pensamento as faço minhas. Pois que nenhum lugar é mais seguro e fundo do que o cérebro, e nada nos pertence mais do que as coisas que lhe cabem dentro.

posted by Margarida C. on 4:30 da tarde

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