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Conexão Lisboa-Manaus


Faltam apenas para a Grande Dança das Tribos começar!


O umbigo do chão

sábado, fevereiro 03, 2007
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Foto de Fernando Bizerra Jr - Menina Waurá assistindo à dança dos adultos da tribo


Ainda a propósito da marcha do povo Waurá, em solidariedade com a luta dos Guarani Kaiowa e Ñandéva.
As reivindicações que traduzem não são muito diferentes das que também surgem por aqui. Ou, pelo menos, o princípio da indignação que leva à contestação, não é nem muito mais complexo, nem muito mais elaborado. Diria, aliás, que corresponde à lógica de assentamento de cada um sobre a terra em que se fixou, seja há muitas eras e gerações, seja mais recentemente, por força de guerras, fugas, exílios, migrações, segregações e outras circunstancialidades: comunidades emigrantes, africanos, ucranianos e croatas, chineses, indianos, ciganos, muslins, sérvios e kosovares, iraquianos e americanos, portugueses, espanhóis, índios, waurás, ñandéva e guaranis incluídos. O princípio que fixa cada um ao seu chão é o da identidade e reconhecimento que com ele consegue estabelecer, por laços mais ou menos sólidos, por maior ou menor que seja o histórico que confere ancestralidade a essa união.
Tenho acompanhado de perto diversos processos de "requalificação urbana" com a consequente necessidade de demolição de antigas zonas de habitação clandestina e realojamento dos cidadãos e suas famílias em novos parques habitacionais. Foi assim com o Casal Ventoso e a Pedreira dos Húngaros, tem sido assim com o Bairro do Fim do Mundo, o 1º de Maio, a Cova da Moura, as Marianas e outros que tal. Aquilo a que assisti e que se pode facilmente observar no terreno obedece a dificuldades que não chamaria de "exigências exageradas" ou "resistência intransigente", mas antes resultam de um sentimento de abrupto desenraizamento.
Enquanto as pessoas não reconhecem afinidade com o pedaço de chão para onde são transplantadas, elas não se conformam com a reconfiguração do espaço de todos, o mesmo é dizer, com a cedência da porção que, até então, era a sua, nem com a que lhes foi atribuída para futuro. Mais importante do que água canalizada e luz eléctrica é, muitas vezes, reconhecer no novo bairro as mesmas relações de vizinhança que davam malha à rede em que a vida se estruturava: saber se aquela pessoa vai continuar a morar na janela ao lado, ou se aquela outra continuará a ter um pátio que dá para o seu, de modo a dividir o fogão de carvão, o churrasco dos dias de festa, os brinquedos das crianças. Também é certo que, não raras as vezes, toda esta hierarquia de requisitos é desvalorizada, subestimada face a outras premências que se consideram prioritárias. A questão é: consideradas por quem? Não pelos próprios, e esse é o "x" da coisa.
Certa vez, no Bairro do Fim do Mundo, ali para as bandas do Estoril, sentada num tijolo equilibrado num toco, à sombra de uma árvore, conversando com um velho morador em vias de ser realojado, o meu gravador captou argumentos que me pareceram, logo na altura, basilares para a compreensão do problema e para o correcto reposicionamento do conflito no eixo da sua origem. Dizia-me ele que não se opunha a sair dali, ainda que há 33 anos fosse a sua morada. Dizia-me, aliás, que estava disposto a fechar os olhos ao facto de, no novo bairro social, ficar impedido de ir a pé até ao trabalho e passar a depender de "autocarros", como me dizia também que de pouco o motivava saber que passaria a ter duas divisões para separar os quartos das raparigas e o dos rapazes. O que não podia aceitar, de maneira nenhuma, era que no novo bairro não existisse nenhum terreiro, nenhuma clareira, nenhum espaço mais amplo onde a comunidade pudesse reunir-se - onde fariam as festas de casamento, a partir de agora? Onde se juntariam para soprar velas, chorar seus mortos, jogar aos domingos? Não isso, ele não podia aceitar.
Não é diferente o que torna a demarcação de terras inaceitável para estes guaranis e wuarás. No traçado feito foram deixados de fora alguns locais de grande importância na vivência histórica destes povos, como é o caso da caverna de Kamukuaká, existente no seu antigo território e que está intrinsecamente ligada à sua cultura e mitologia.
Talvez falte perceber em todos esses processos qualquer coisa decisiva e, ao mesmo tempo, muito simples. A ligação de cada um ao chão que o fixa não se funda só no reconhecimento da sobrevivência física que lhe permite, mas também no referente simbólico e subjectivo que, ainda que mais impalpável e invisível, é pressentido por si como garante primário dessa outra forma de urgência vital: a sobrevivência cultural.

posted by Margarida C. on 8:57 da manhã

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