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O que os pastores do Tibete desconhecem

domingo, fevereiro 18, 2007
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Fotos de Natalie Behring

Hoje, ao almoço, defendia eu que, apesar de tudo, existe uma diferença entre o desconhecimento e a ignorância. Vou poupar-vos, Pessoas, das nebulosas e dos meandros por onde se atravessa essa minha convicção e a consequente tentativa de a explicitar. Como disse, foi uma conversa na hora do almoço. A hora do almoço já lá vai e acontece que nenhum de vocês fazia parte da mesa, pelo que não cairei na fastidiosa tentativa de reproduzir os labirintos da conversa que me conduziram à distinção. Conversas são únicas e impossíveis de reproduzir, no tanto que uma palavra,u ma anuência ou até mesmo um franzir de sobrolho mais discordante têm, no rumo que o acto de pensar toma e segue.

Seja como for, sublinho a convicção de que algo distingue desconhecimento e ignorância.
Encurtando as coisas, entendo que o desconhecimento coloca a pessoa ainda fora do domínio do saber de algo. Como se de uma ante-câmara se tratasse. Por algum motivo, condicionante ou circunstância, a pessoa ainda não transpôs o limiar que a poderá fazer adentrar no domínio do conhecimento em falta. A ignorância, por outro lado, é como que uma queda de um território já trilhado, ou cuja possibilidade de aceder era viável e possível, não fora o facto de, diante dela, a opção tomada ser a de pura e simplesmente a ignorar. Aceito sim, o nexo próximo que a minha distinção estabelece com conceitos como o de "responsabilidade", por exemplo, bem como algumas outras implicações que dele decorrem necessariamente. Nesta minha linha de convicção resulta, por exemplo, a ilação de que é menos responsável aquele que desconhece do que aquele que ignora. Não apenas aceito, como reitero. É menos responsável, sim, e como tal, menos passível de ser responsabilizado também, sob o primado de que não se pode pedir aalguém que conheça o que ainda não lhe foi dado a conhecer. O mesmo não se pode dizer daquele que ignora, pela razão óbvia de que só é passível de ser ignorado aquilo que, de uma forma ou de outra, se conhece a existência. Dito de outro modo, só é possível ignorar algo de que já se tem ou teve conhecimento prévio. Ignorar é tomar deliberadamente por inexistente algo cuja existência se tem por adquirido. Caso contrário, o acto de ignorar perde condição de possibilidade pois nunca resultará de uma deliberação, escolha ou vontade, uma vez que a opção nem sequer existe. Aliás, o objecto a ignorar nem tão pouco existe para o sujeito, sendo que ninguém se posiciona, seja de que modo for, diante do inexistente.

Vem isto a propósito do artigo publicado na última 6ªfeira pelo Telegraph, sobre os efeitos do Aquecimento Global na região do Tibete.

Existem duas formas de olhar para a matéria. A primeira é seguir linearmente o que as páginas do jornal deixam exposto, publicando uma foto de dois pastores tibetanos pulando satisfeitos, sob um título onde se lê: «Tibetan shepherds welcome climate change». Nesta leitura, resulta a conclusão de que os tibetanos são egoistas, irresponsáveis ou indiferentes para uma questão cuja gravidade, aliás, o artigo deixa bem claro, avançando previsões científicas como por exemplo a de que essa região glaciar desaparecerá antes do final do século.

A outra forma de olhar para a matéria é tentando perceber o que ela não diz, nem mostra, procurando assim comprender a razão de ser que está por detrás daquilo que efectivamente fica dito, ou se se preferir, escrito.

Não se podendo esperar da maioria dos leitores do Telegraph, ingleses, portugueses, europeus, americanos que seja, que consigam sequer imaginar a vida nos planaltos montanhosos do Tibete, talvez tivesse sido mais leal para com os pastores que aceitaram conversar com o jornal, enquadrar o seu testemunho. Creio que nem os que de nós, no auge do sua mais bem sucededida capacidade de abstração, poderão aproximar-se do que possa ser a dureza de um quotidiano numa região sujeita ás agruras que a altitude impõem ao clima. Uma manhã mais amena, uma tarde mais soalheira, uma noite mais morna, terão para os habitantes da região um efeito prazenteiro que excede em muito a nossa própria satisfação diante de Invernos menos chuvosos e menos frios, para nós que , ainda assim, temos aquecimento nas casas e no emprego, carros ou transportes públicos para ir trabalhar, muitas vezes garagem no prédio onde moramos e no edifício onde trabalhamos, não precisando de colocar o nariz na rua se assim o preferirmos - isto só para dar um pequeno exemplo.

Talvez assim se entenda de outra forma porque razão os pastores do Tibete acreditam que «things are getting better and better». E quando o Telegraph ironiza que para eles o aquecimento do clima «can only be good news», conviria que explicasse antes (e não após), que o que aquele pastor sabe realmente é que este ano só perdeu uma ovelha, contra os muitos que por regra não sobreviviam para o ano seguinte.

Conviria também dissecar com maior profundidade a afirmação mais perturbadora e decisiva, que em meu entender é feita no artigo. Pertence, não ao jornal e ao jornalista, não ao autorizadíssimo cientista citado, mas a um dos pastores de ovelhas entrevistados, quando diz: «I have heard of global warming, though I don't really understand what it means.»

É de capital importância este testemunho, entre a humildade do reconhecimento e a perplexidade expressa. Não é que os pastores do Tibete ignorem o Aquecimento Global, mas eles desconhecem em absoluto o que possa ser e o que representa.

Em bom rigor, onde está a novidade? Em alguém que não tem conhecimento dizer a única coisa honesta que pode dizer, que desconhece? Onde estáa ironia? No facto dos pastores tibetanos se alegrarem com um clima menos agreste ou no facto de nos queixarmos de um clima mais agreste, na parte que nos toca, e pouco ou nada fazermos para alterar o estado das coisas? Basta lembrar quantos e que países continuam a negar-se ao Protocolo de Kyoto e nem vale a pena ir muito mais longe. Em última análise, fico eu a perguntar-me, como é possível que os habitantes de regiões glaciares, como os pastores tibetanos do artigo, continuem no absoluto desconhecimento da realidade dos factos que conhecemos, nós, cidadãos avisados, alerta e orgulhosamente informados, que habitamos a outra face do mundo. É igualmente dito na matéria que as Nações Unidas monotorizam a região desde 1960. Sabemos todos, em boa verdade, que uma ampla equipa de cientistas desenvolve trabalhos de pesquisa e investigação no terreno e que sópor isso sabemos todos hoje o que sabemos. Todos, menos os pastores tibetanos, porventura os primeiros a quem seria justo e leal dar conhecimento das descobertas e conclusões.

Não se compreende que o trabalho de informação e formação da população seja feito a nível mundial e não se tenha nunca lembrado de chegar aos tibetanos. Simplesmente,não se compreende. E não se aceita. Enquanto assim for, temo que nenhum efeito positivo dele resulte, mesmo sabendo que não são obviamente os pastores tibetanos os grandes poluidores. Como deixei dito acima, é bem menos responsável quem desconhece do que quem ignora. Ainda assim, têm os tibetanos o direito de conhecer o mesmo que nós e de modo a também eles alinharem uma estratégia de actuação consonante.

Os pastores e os monges tibetanos foram os guardiões históricos do Tibete, da mesma forma que os povos indígenas o foram na Amazónia. Acontece que a gestão ruinosa que outros piores guardiões fizeram dos restantes pedaços de Planeta que tinham a seu cargo, acabou interferindo, prejudicando e afectando os paraísos que índios e tibetanos conseguiram fazer chegar aos nossos dias. Não é aceitável uma conduta paternalista que os exclua do muito que agora urge fazer. E não é admissível que os piores guardiões tenham agora a pretensão de se arrogar mais capazes, sob o argumento das facilidades científicas e tecnológicas de que dispõem. Não sendo aceitável, nem admissível é, acima de tudo intolerável que chamem a si o monopólio de tudo quanto já se sabe, deixando todos os outros fora desse saber, privando os que mais imediatamente sentirão o efeito destrutivo do impacto ambiental excluídos da esfera do conhecimento. Porque, em última instância, mais do que menos responsáveis, o facto de serem relegados para o desconhecimento deixa-os a todos mais indefesos, mais impotentes, mais condenados.

posted by Margarida C. on 9:28 da tarde

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