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Conexão Lisboa-Manaus


Faltam apenas para a Grande Dança das Tribos começar!


Com os índios isolados, na fronteira com o Peru

sexta-feira, fevereiro 02, 2007
Photobucket - Video and Image Hosting
Foto de Ricardo Stuckert


O barco da Funai sobe o rio Ituí. Corta o sudoeste da Floresta Amazônica, nas fronteiras com o Peru e a Colômbia. A viagem já dura há cinco horas. Além da equipe de ISTOÉ, fazem parte da comitiva repórteres da revista alemã Der Spiegel e do Discovery Channel. Uma família de botos cor-de-rosa faz piruetas silenciosas na superfície da água. As margens do rio estão cheias de borboletas coloridas. À próxima curva, uma surpresa. Dois indiozinhos pelados tentam esconder-se numa canoa, nas moitas de um igarapé. Mais adiante, quatro adultos observam-nos. E, mais à frente, outros dois. Em vez de desaparecerem no meio da selva, disparam numa corrida desenfreada pela beira do rio, os corpos pintados de urucum, e conseguem ultrapassar o barco. Reúnem-se ao resto da tribo, de apenas 18 integrantes, e aguardam-nos. Falam alto, apontam, cruzam os braços... Uma menina traz no ombro um filhote de macaco que não pára de gritar. Parece mais assustado que os índios. Eles têm a nuca rapada e apenas uma franja preta e grossa lhes cobre a cabeça. Três mulheres carregam bebés presos ao corpo com uma tira de casca de árvore. Os homens têm a ponta do pénis amarrada e suspensa por uma cordinha em volta dos quadris. "Áne?" Querem saber quem somos. Mulher branca também tem "xuma" (seio)? Riem muito e, apesar de desconfiados, recebem-nos pacificamente. Da mesma forma que os tupiniquins receberam Pedro Álvares Cabral e a sua armada de 13 naus e cerca de 1.500 homens, no litoral baiano.

Quinhentos anos após o descobrimento, o Brasil abriga brasileiros que ainda não foram descobertos. Mantiveram-se afastados de todas as transformações que aconteceram no País e no mundo e não têm nenhuma relação com outros grupos indígenas. Vivem de caça, pesca (alguns têm pequenas lavouras), não falam português, nunca viram televisão, carro ou bicicleta. O único contacto com a tecnologia é o ronco dos aviões e dos barcos da Funai. Dos 210 povos indígenas remanescentes no Brasil, 55 vivem isolados da civilização desde a época da colonização. Sabe-se da sua existência através dos vestígios que deixam na mata, de informações de comunidades ribeirinhas e de imagens aéreas das suas malocas.

O grupo que encontramos, na margem do rio Ituí, pertence à tribo dos korubos, "encafuados" a uma distância de 100 quilómetros dali. Num sobrevôo pela região, foram vistas três clareiras e ocas com capacidade de abrigar até 40 pessoas. Acredita-se que os korubos sejam cerca de 300. Os que contactamos deixaram a aldeia há cerca de oito anos e não podem voltar. O motivo é bem humano: Xixu, um índio risonho e de peito empinado, teria roubado Maiá de outro homem e fugido da tribo, levando consigo alguns parentes. Hoje, há sete mulheres (três adultas, uma adolescente, uma criança e dois bebés) e 11 homens (seis adultos, um adolescente, três crianças e um bebé) no grupo. Para chegar até eles, foram precisos três dias de longa espera num sobrado flutuante da Funai, na confluência dos rios Ituí e Itacoaí. Os índios costumam aparecer na outra margem do rio, em frente ao sobrado. Mas desta vez não apareceram. No quarto dia de espera, quarta-feira 25 de agosto, saímos à procura deles. Na classificação da Funai, os korubos são "índios semicontactados". O primeiro contacto foi feito em 1996. Não se sabe nada do universo mítico, das regras de convivência ou relações de parentesco dos korubos dissidentes. Eles não têm pajé, nem caciques e há a suspeita de que, em função do isolamento do resto da tribo, mantenham relações incestuosas entre si.

Os korubos levam-nos para o seu acampamento, a poucos metros do rio, e mostram-nos a caça do jantar: uma preguiça e um macaco. Foram mortos com zarabatanas – finos troncos de árvore, ocos por dentro, de até três metros de comprimento. Com um sopro forte numa das extremidades, os índios lançam pequenas flechas contendo veneno de cipó contra o alvo. Para conseguir entender o que dizem, os técnicos da Funai contam com a ajuda dos matis, uma tribo aculturada do sul da Amazónia cujo dialecto, o pano, mais se aproxima da língua dos korubos. Maiá, uma das mandonas do grupo, quer saber por que há mulheres na comitiva da Funai sem marido. Diz que é ruim ficar sem "banê" (companheiro).

Há quatro palhotas frágeis, de folha de palmeira e coqueiro. Dentro delas, pouca coisa: fogueiras e redes feitas com palha de árvore. O fogo é obtido esfregando-se dois tocos de cedro em chumaços de algodão do mato. Os korubos não se assustam com as máquinas fotográficas e mostram gostar muito da tesoura que trouxemos. Devidamente instruída, Maiá experimenta cortar a franja de um indiozinho de um ano. Acerta à primeira e ri ás gargalhadas. Os índios conversam muito entre eles. Contam que recentemente mudaram de acampamento por causa dos carapanaí (mosquitos), explicam que têm plantando milho e que sentem muita, muita preguiça. Oferecem-nos milho assado e buriti, uma fruta de sementes amargas parecida com a manga. Xixu segura os funcionários da Funai pelas mãos para dançar e cantar. Com a face lívida, como se entrasse em transe, grita: "Rê-Rê tupi choe moxê, osmaiê..." É um choro.

Apesar de se mostrarem receptivos e afectuosos, os korubos são perigosos. Em agosto de 1997, mataram a golpes de cacete, sem motivo aparente, o funcionário da Funai Raimundo Batista Magalhães, o Sobral. "Não relaxamos nunca num contacto. A gente diz uma coisa e os índios podem interpretar outra. É preciso ter muito cuidado", explica-nos o sertanista Rieli Franciscato, com 35 anos. "Tenho medo deles. Quando tinha sete anos, invadiram minha casa e me deram duas cacetadas na testa e na nuca. Meus pais estavam na roça. Desmaiei e quando acordei não conseguia ver nada de tanto sangue no rosto", relata-nos mais tarde Neuza Juvenal da Silva, 54 anos, dona de uma venda à beira do rio. Os korubos são tão primitivos que nem usam flechas. As suas armas são bordunas amarradas com uma corda ao tornozelo. Graças a elas, ganharam o apelido de caceteiros. Nos últimos 23 anos, teriam matado a bordunadas 24 pessoas, entre elas uma criança filha de seringueiros, seis funcionários da Funai e dois da Petrobras.

"Foi exatamente por causa dos confrontos que esses índios se isolaram. Eles não saíram de casa para matar. A luta aconteceu em suas terras. Se estivesse na pele deles, faria pior. Matava, cortava o saco e colocava na boca", afirma o sertanista e ex-presidente do Departamento de Índios Isolados da Funai, Sidney Possuelo. Através de sete frentes de trabalhos espalhadas pelo País – a maior parte delas na Amazónia Legal –, o Departamento tenta localizar geograficamente os índios isolados, delimitar o seu território e oferecer protecção. Não é fácil. Naquelas bandas, o índio ainda é sinônimo de entrave ao desenvolvimento. "Dão muita terra para pouco índio e o branco não tem onde criar seus filhos", queixa-se Arlindo de Souza Palmeira, 37 anos, marido de Neuza. Para proteger os korubos e outros quatro grupos de índios selvagens que sobrevivem no sudoeste da Amazónia, a Funai delimitou uma área de 8.337 milhões de hectares - o tamanho de Portugal - uma área que é chamada Vale do Javari.

Segundo Possuelo, as cidades próximas, como Atalaia do Norte e Benjamim Constant, nunca quiseram a demarcação das terras indígenas do Vale do Javari. "Associados aos políticos locais, madeireiros, pescadores e caçadores tentam enfraquecer nosso sistema de vigilância promovendo invasões. Tenho um processo na Justiça contra as prefeituras locais por terem retirado as placas que colocamos na região", conta. Instalado num sobrado flutuante na confluência dos rios Ituí e Itacoaí, a dois dias de barco da cidade de Tabatinga, na fronteira com a Colômbia, Possuelo age com poder de polícia. Interdita o acesso dos barcos à area indígena, vai atrás de caçadores e madeireiros e ajuda a Polícia Federal a localizar pistas de pouso e decolagem de narcotraficantes colombianos.

Todo esse esforço é para continuar a manter os índios selvagens isolados da civilização. "Há muitos prejuízos no contacto físico e cultural. Vantagem para eles é viver a sua vida bem longe. Os índios aculturados foram submetidos a um mundo que não lhes pertence e não lhes dá espaço", diz Possuelo. No caso dos korubos, segundo ele, a aproximação era inevitável. "Se não fizéssemos contacto, mais cedo ou mais tarde iriam nos atacar." Ao deixarmos a aldeia, Xixu corre à nossa frente e entra no barco. Mexe em tudo e atira os nossos objectos para os índios que estão na margem do rio. Nada a fazer. Depois de satisfeita a curiosidade, voltam para o mundo que lhes pertence: a floresta.

publicado na revista IstoÉ


posted by Margarida C. on 1:08 da tarde

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