Ultrapassadas as atenções natalinas e de Réveillon, a rede Globo coloca no ar a minissérie Amazônia- de Galvez a Chico Mendes, produto televisivo que justifica a emissora brasileira como ponta de lança na exportação de nossa história. O dinheiro investido, cerca de R$ 100 milhões, será prontamente recuperado pela emissora, máquina de fazer din din. Ela, lógica de mercado, não dá nó sem ponto. Países de língua portuguesa, espanhola e, dizem fontes não autorizadas da emissora, até de língua inglesa se interessam e se interessarão pela produção.

Mas quem ganhará e está ganhando com isso, certamente é o estado do Amazonas. Por mais que o enredo de Glória Perez, baseado nas obras Terra Caída (José Potyguara da Frota e Silva) e O Seringal (Miguel Ferrante), aborde o processo perverso de escravidão e práticas de coronelismo do século passado, a minissérie enaltece o santuário amazônico, dá vida à capital Manaus em sua belle époque, e mostra como a Amazônia é bela e deve ser preservada. Os rios e os barcos preenchem as paisagens belíssimas do primeiro capítulo, um pouco retocadas, é claro, pelo photoshop de Hans Donner, mas digamos que 80% do que se vê, de imagem e conteúdo sejam verdadeiros.

O Amazonas recebeu, em 2005, entre turistas nacionais e estrangeiros 280
mil visitantes. Tudo indica que fechou o ano de 2006 com mais de 300 mil
turistas em suas águas. Ótimo para o estado e para suas autoridades turísticas
que querem transformar o aeroporto de Manaus no hub do norte do país.

No último ano os chineses foram os que mais visitaram o Amazonas, superando os
americanos e europeus. E estes números vêm subindo: em 2000 apenas 242 turistas chineses vieram ao Estado, e em 2005 esse número subiu para 2.820. Em recente
entrevista ao Diário do Turismo, a presidente da Amazonastur, Oreni Campelo
Braga, lembrou que o Governo do Estado ampliou de um para seis o número de
Centros de Atendimento ao Turista (CATs) em cidades como, por exemplo, Barcelos,
Iranduba, Manacapuru, Novo Airão e Presidente Figueiredo e Parintins.

Segundo dados da Fipe/FGV, o Estado do Amazonas aparece em 10º no ranking de unidades federativas mais visitadas quando o turismo é de lazer e sobe para 9º quando o turismo é de negócios. O paulista responde por 35% do turismo receptivo no Amazonas.

A veiculação da minissérie Amazônia deve servir para incrementar o turismo na região, já que estimulará a criação de empregos em hotéis de selva e restaurantes.

Se os 100 mil nordestinos, que fugindo da seca no início do século passado encontraram na Amazônia uma perspectiva de vida, agora é a própria Amazônia no começo deste século, que precisa carrear do Brasil e do mundo e também das praias do nordeste os turistas para sua economia. Que o extrativismo turístico não seja predatório e que a nossa matéria prima - não mais a borracha e sim a floresta inteira -, não seja levada apenas para a Malásia, mas para as TVs do mundo inteiro.

por Paulo Atzingen